Conselhos Urológicos
Cada especialidade médica ou cirúrgica tem especificidades próprias que as diferenciam umas das outras e que permitem aos especialistas que durante anos as praticam, uma visão global e pormenorizada dos respetivos campos científicos. A Urologia é uma especialidade cirúrgica entusiasmante e em constante evolução que não foge à regra. Desse modo, após muitos anos de contacto contínuo e diário com muitos milhares de doentes urológicos, permitiu-nos formar três ou quatro ideias fundamentais que gostaria de transmitir como conselhos:
Qualquer especialidade cirúrgica como a Urologia, tem uma parte médica (não operatória), na qual o doente pode ser tratado e curado sem necessidade de nenhuma intervenção cirúrgica e todas têm igualmente situações em que sem uma atitude operatória o doente não pode ser curado…Aqui nasce a “Indicação operatória” duma situação clínica. Para mim é fundamental ao tratar doentes urológicos, ter a noção de que como diziam os meus mestres: “O primeiro ato cirúrgico é não operar…” Assim só devemos operar, para ter os melhores resultados, os doentes que indiscutivelmente a cirurgia lhes trará bons resultados e melhor qualidade de vida.
Sobre Oncologia urológica (tumores do rim, ureter, bexiga, próstata, pénis e testículos) que infelizmente continuam a ser muitíssimo frequentes na nossa especialidade, podemos afirmar que mais de noventa por cento são curáveis desde que os doentes nos procurem e sejam diagnosticados e tratados precocemente. Para o seu diagnóstico precoce não se deve ficar à espera que produzam grande sintomatologia pois nesta fase a lesão pode já estar muito extensa e assim já comprometida a cura do tumor. O aparecimento de dificuldades na micção (disúria), de sangue na urina (hematúria) mesmo que só uma gota ou num único episódio, da observação de qualquer lesão visível no pénis, da palpação de qualquer massa testicular deve de imediato pôr de sobreaviso o doente, devendo este ser consultado pelo urologista. Temos hoje felizmente milhares de doentes que tiveram um tumor maligno urológico na próstata, no rim, na bexiga, no testículo, com um Diagóstico e Tratamento precoce, perfeitamente curados e com normal qualidade de vida.
Sobre a chamada Incontinência urinária de esforço na mulher (Hipermobilidade da uretra feminina), patologia tão frequente em mulheres após terem tido um ou vários partos, temos hoje em dia várias inovadoras técnicas, muito pouco invasivas, com diminuta morbilidade pós operatória e com taxas de sucesso da ordem dos 90%-95%.
A Hiperplasia benigna da próstata, o Carcinoma da próstata e várias outras patologias urológicas têm hoje vários diferentes tratamentos igualmente eficazes. É fundamental os tratamentos serem selecionados para cada caso e note-se que cada doente é um caso. Deve ser utilizado o tratamento com a maior eficácia e a menor morbilidade para o doente.
Uma palavra sobre a escolha dos Tratamentos urológicos e dos Tratamentos urológicos inovadores. Com o fantástico desenvolvimento nos últimos anos da engenharia médica, têm aparecido no armamentário terapêutico do cirurgião urológico inúmeras técnicas inovadoras. A nossa experiência ao longo dos últimos quarenta anos anos é que algumas delas mostraram o seu valor e a sua eficácia, implantaram-se definitivamente e venceram o” teste do tempo”. Muitas outras, no entanto, apareceram, foram utilizadas, mas os resultados pouco convincentes bem como a sua morbilidade elevada, tornaram-nas obsoletas e quem as usou teve que as abandonar. É, portanto, fundamental a nosso ver, termos em mente que usar a última inovação técnica para o tratamento duma qualquer doença urológica nem sempre é sinónimo de excelência. Assim, procurámos sempre e continuaremos a procurar, usar nos doentes, terapêuticas e técnicas cirúrgicas perfeitamente implantadas e consolidadas, o “Gold standard” (Tratamento de eleição) tendo esta atitude sido certamente uma das razões do nosso sucesso e realização profissional.
Por último uma palavra sobre “Cirurgia Laparoscópica” e “Cirurgia Robótica”. Ambas são as técnicas cirúrgicas do presente e do futuro. Sempre que exequível operamos sempre por cirurgia laparoscópica. A cirurgia clássica “a Céu aberto” que fizemos durante tantos anos, é passado! Não faz sentido prescindir de oferecer ao doente uma técnica cirúrgica em que a melhor e maior visibilidade dos órgãos e restantes estruturas anatómicas, a menor sintomatologia dolorosa pós-operatória, o menor internamento hospitalar possível, a menor morbilidade e os melhores resultados clínicos lhe sejam negados. No entanto uma primeira palavra de aviso, para que quem a pratica deverá ser também um cirurgião experiente em “Cirurgia a céu aberto”, isto para melhor conhecer a anatomia do campo em que irá operar e uma segunda palavra para referir que os melhores resultados com esta cirurgia contemporânea serão obtidos se a experiência do cirurgião, na realização destas técnicas, for muito boa. Na Cirurgia Robótica deverá ter-se a noção que não é o “robôt” que está a operar, mas sim o cirurgião. A nível dos resultados clínicos estes não são melhores do que com a cirurgia laparoscópica, só o são muito pontualmente, é mais dispendiosa e traz sobretudo maior conforto e comodidade ao cirurgião, o qual poderá estar a operar fora do contacto direto do doente, mais ergonómicamente sentado numa consola.